segunda-feira, 25 de junho de 2012

Quanto tempo o tempo tem?

Acordo cedo, levanto, prendo os cabelos, faço xixi, escovo os dentes, volto para o quarto, troco de roupa, coloco os tênis, organizo o material da faculdade, tomo um Nescau e saio correndo pra aula. Chego, almoço correndo, escovo os dentes, organizo materiais de estudo para ler no trabalho e saio novamente. Abro a loja, limpo tudinho, organizo as bagunças. No decorrer da tarde, estudo e faço intervalos curtos para um bom chimarrão e se a fome bater arremato uma empada do tio da bicicleta ou uma torta do tio alemão. Volto aos estudos e logo depois faço um intervalo para o café da tarde. Volto mais uma vez aos estudos, onde fico até o final do expediente. Saio, vou pra academia e malho por uma hora e meia. Chego em casa por volta das dez horas da noite e preciso encontrar tempo pra estudar o que não estudei e escrever o que não deu tempo de escrever. Ainda preciso de tempo pra tomar banho, jantar e cuidar um pouquinho de mim.

Seguindo uma rotina regrada, parece que o tempo passa tão rápido e despercebido que nem nos damos conta de que os dias passam. Parece que a vida corre mais rápido que o relógio, forçando a barra pra que possamos refletir sobre o nosso tempo, o tempo da vida, o tempo de si. Essa correria toda do dia a dia custa caro! Se analisarmos, acabamos conformados com os problemas e com tudo aquilo que não satisfaz nossos gostos, pelo simples fato de fazer parte da rotina, e consequentemente, do tempo que passa depressa e que não nos dá chance de mudar o que nos descontenta.

Parecemos acomodados sobre um viver desenfreado que nos impede de refletirmos sobre a vida, que por passar depressa também, esboça uma certa imagem de suficiência, uma vez que adquirimos o que desejamos com o suor dessa rotina cheia de regras e horários previamente combinados em contratos. Mas e de fato, o que estamos fazendo com a nossa vida nesse tempo corrido que passa despercebido entre as ruelas da acomodação?

“O tempo não para” – Já dizia Cazuza, que atento ao relógio percebeu o quanto deixamos de fazer questionamentos a cerca de nossas vidas enrustidas de calmaria. Nós seguimos a vida com a cabeça baixa, sem perceber os detalhes, sem apreciar as dádivas naturais que nos cercam e principalmente, sem saber se estamos felizes ou insatisfeitos com nossa vida universitária, profissional e pessoal.

O mundo está tão acostumado a viver desse jeito que se esqueceu da vida mansa e tranquila que se pode ter observando o brotar da flor, o nascer do sol, o cair do orvalho, o nascimento de novas vidas a cada segundo... O mundo deixou cair no esquecimento o maior de todos os acontecimentos: a auto reflexão. E com isso, todos nós paramos de questionar a própria felicidade, porque nos sentimos completos com o simples viver da rotina regrada, ou porque ainda não tivemos tempo para fazer uma boa reflexão sobre o que fazer do nosso tempo que nos deixa a mercê do atropelamento das nossas vontades e escolhas.

Marcelle Costa Oliveira

3 comentários:

Thiago Calmon disse...

Este é um problema bem universal. Duty - Uma mistura de dever com missão e obrigação. Diariamente nos retira da simples contemplação ou da possiblidade de viver intensamente. No entanto há como trabalhar isto.

Thaís Teixeira disse...

As vezes ficamos tão imersos nessa rotina alucinada que esquecemos de como é bom apreciar um por-do-sol ou sentar numa sacada para contemplar o mundo. Não da tempo de parar, pensar, respirar, sentir e viver. A não-percepção do que está ao nosso redor nos confina ao um mundo sem pontos de fuga e apenas de obrigrações e estress.

Boêmios disse...

Acho que não passam de pensamentos clichês, não que eles se diminuam por isso, mas simplesmente são clichês. O valor dos nossos dias ou das nossas vidas, não está em ver florzinhas nascendo ou os por-do-sois, estes são belos porque a raridade com que nós os contemplamos lhe dão essa aura de uma beleza fulgaz, isso são milésimos que guardamos na alma como um deleite desgastado. As verdadeiras coisas em nossas vidas são, realmente, provindas do estres e da rotina, da vida não vivida, são daí que surgem as músicas, as poesias, as artes em geral. Não estou menosprezando seu texto, só acredito que não passam de mensagens positivazinhas, querendo que no fundo vivamos mais. Estar correndo contra o tempo é aprender a conciliar. Não que temos que deixar de dar valor as pequenas belezas, mas procurar a beleza um pouco além, saber que nossa cabeça, no ócio de por-dos-sois, de brisas marítimas, de lindos idílios, só levam a insanidade, ao menosprezo, a invalidez e a tantos outros pormenores de uma existência que procura "dádivas naturais que nos cercam"

G.