sexta-feira, 1 de junho de 2012

Fado do abandono

Último dia de apresentações.

Não serei hoje, o menestrel de plumas vistosas que esperam de mim, não declamarei injurias ou saudades, não cantarei falsos amores, não exaltarei, não condenarei, não desperdiçarei palavras. Seguirei o vacilante e tranquilho compasso das cordas, aquelas em meus dedos, e aquelas nos dedos dos outros.

Abandono a minha terra conquistada, como um fidalgo sonhador, saio dos palcos às coxias. Um novo senhor das cordas, um mestre das cortinas; fazendo do espetáculo sua graça, mas nunca visto por holofotes ou lamparinas.

De um sereno jeito deixo meu adeus, sem pompas chorosas ou adornadas de promessas. Vou-me assim embora, sem gaitas ou tambores, sem meia-luz, sem vaias ou clamores. Simplesmente vou-me, acompanhando Horácio nos bastidores desta esbórnia, de passos incertos - ao menos por hora. 

Vou desbravando assim o além palco que já conhecia, tentando agora dar nova vida, a essa monótona coxia. Mas não matutem demais, despreocupem-se caros leitores, o espetáculo do Estopim terá novas aberrações, na ausência desses seus paupérrimos escritores.

Gessony Pawlick Jr.

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