segunda-feira, 14 de maio de 2012


         Com a lucidez de mercado que nos é indispensável, fechamos gratuitamente, um pacote de novos escritores para o Estopim. O acordo estabelecido nos corredores do Hospital Unisul foi com gente careca de tanto administrar; gente homem e gente mulher; gente loura, que por sinal ri alto; gente grisalha, por causa das Ciências Políticas; cidadão que vai emagrecer um bocado por dizer sim à vida de professor; sujeito que não sabe se o Brasil vai bem ou mau politicamente e, por isso, é calvo; gente nova, moço que também se encontra careca de tanto falar de cinema; enfim, gente que vai ganhar e gente que já tem cabelos brancos, alguns, como mostrado, que não têm mais nada, mas sobretudo gente que usa trança para disfarçar a calvície. Não perca! Eles permanecerão em nossas páginas pelo exíguo espaço de uma semaninha. Esperamos que com eles esteja uma criança insana chamada criatividade, já que em nossos bolsos ela não se encontra.
A Patota

Antagonismos de um novo modelo de mundo
Ingo Hermann (O careca, não o cabeludo)



Como protagonistas de um novo século que apenas acaba de começar, nunca na história da humanidade, observou-se transformações tão rápidas e radicais. Calcula-se que a quantidade de informações produzidas de 1970 até hoje é maior que a produzida ao longo dos últimos 5 mil anos. Uma edição do jornal The New York Times, por exemplo, contém mais informações do que uma pessoa que viveu no século XVII poderia ter acesso em toda a sua vida. É algo simplesmente estrondoso e difícil de mensurar, quanto mais comparar. 

Estamos vivendo mais e melhor, hoje são 21 milhões de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil e, em 2025 serão 32 milhões, segundo o IBGE. Ao longo de três décadas, ampliou-se a longevidade em quase 12 anos, em grande parte, graças a medicamentos mais eficazes e tecnologias inovadoras.

Por falar em tecnologias, talvez seja essa a área em que as mudanças podem ser percebidas de forma mais drástica, tamanha a influência e o fascínio que exercem sobre nós, humanos. As novas tecnologias tem o poder de viabilizar a produção compartilhada de conhecimento, o groupware, o tele-trabalho, a educação à distância, o encontro de pessoas em redes sociais, transmitindo emoções, não apenas em uma mensagem de e-mail com um anexo, mas em tempo real, independente do local em que se esteja.

Muitas dessas tecnologias estão “embarcadas” e nem sabemos como agem, apenas tomamos conhecimento de sua existência quando diante de um acidente eminente, o carro “se recupera” e cumpre a sua trajetória. 

Fico pensando como seria difícil viver na idade média, sem a estrutura e os benefícios da vida atual. Acho bacana viver no meu tempo, mas é justamente aí que me deparo com o antagonismo de um mundo fragmentado em cenários.

De um lado o cenário de um mundo pensado para facilitar a nossa vida, para nos tornar mais longevos, talvez para nos tornar mais humanos. Será? Gostaria que fosse verdade, mas às vezes tenho dúvida.

De qualquer forma, certamente esse mundo tem a capacidade de se renovar com produtos, serviços, processos e inovações que pipocam a todo instante.

Porém, eis que de repente, como se o cenário se esvaísse como fumaça, me deparo com uma realidade bem diferente, a vida como ela é:

Um trânsito caótico com filas intermináveis. Não há estradas suficientes, não há pontes, não há trens, não há metrô, não há transporte urbano de qualidade, não há transporte marítimo. Fala sério Sr. Estado, o que estão fazendo com o dinheiro dos impostos que eu pago religiosamente? 

Esse mesmo espaço, estrangulado, tenho que dividir com carroças puxadas a cavalo. Convenhamos, isso é coisa do período que antecedeu o século XX, mas que ainda persiste na Grande Florianópolis.

Ufa, depois de quase uma hora, consegui vencer os 15 quilômetros que separam a Pedra Branca do centro de Florianópolis, acesso a internet:

Um dos “pasquins” eletrônicos apresenta dados do analfabetismo no Brasil e eles ainda são muitos, mais de 30 milhões, segundo o IBGE. Pessoas que sequer sabem assinar o próprio nome, sem falar nos chamados analfabetos funcionais. Apenas 25% da população brasileira tem domínio pleno da língua. Dá para acreditar? Uma triste realidade!

Outro “pasquim”, estampa a foto de sua majestade, o rei da Espanha com espingarda em punho ao lado de um filhote de elefante que acabara de abater. Como pode? Com todo respeito vossa majestade, o senhor é a representação da bestialidade. Afinal, como é possível em pleno século XXI, um monarca que é presidente de honra da WWF, se dedicar a caça, apenas pelo prazer de matar um animal?

Não sei! Vejo antagonismos nesse novo modelo de mundo que estou vivenciando. Alguma coisa não se encaixa, me parecem dois mundos. De um lado, aquele futuro que me disseram que iria acontecer quando eu estava nas primeiras séries da escola primária. Ele está aqui, ao meu alcance e muito mais completo do que me disseram que seria. De outro lado, vejo cenas surreais para não dizer dantescas e também sou obrigado a conviver com elas, afinal, insistem em fazer parte do meu dia a dia.

Gostaria de ter o poder de trazer de volta a fumaça que se dissipou quando o primeiro cenário se encerrou!


Ingo Hermann

Um comentário:

Ingo Louis Hermann disse...

Jornalismo divertido, mas levado a sério. Parabéns!