Lúdicos devaneios românticos sobre uma aranha
Outono e o sol fervia no aposento. A luz entrava tímida pelas janelas, mostrava a poeira que pairava leve e fulgaz. Eu, matava o tempo entre uma futilidade e outra, em uma mesa junto com outros computadores, conservava fones em meus ouvidos que me transportavam ao universo do piano de New York Herald Tribune, mergulhando-me em um texto sem importância.
Entre invisíveis ideias pairantes sob olhos, vi que certo alvoroço fora de foco se dava a minha volta. Virei lentamente a cabeça, que linear seguia um pensamento para sempre intangível, o mesmo que, morreria quando eu acabasse a trajetória. A dois palmos do meu rosto, descia uma graciosa, pequena e cor de areia, aranha.
O animal cortou todo e qualquer detalhe da muda situação a minha volta. Eu notava as efervecescentes formas em desfoque, ávidas para o desfalecer em estilhaço do minúsculo aracnídeo, para tranformá-la em viscosas vísceras verdes; mas tudo, mero panorama às sutis acrobacias, que a vistosa aranha, apresentava somente a mim. Seus movimentos tétricos e ao mesmo tempo graciosos, de uma precisão marcial, faziam-na girar suspensa em seu cordão onírico, as oito patas abertas e separadas, como as pontas de uma estrela, davam estabilidade ao seu número circense.
Pouco a fim de interromper o diminuto espetáculo magnânimo, chegei com a grosseira e meticulosa mão para perto, e a graúda aranha, rápida, fechou as patas em torno do corpo, como balsamo de sua armadura natural.
Queria eu tirar o mágico e fascinante aracnídeo dali, a fim de acalmar a situação que rondava o universo, meu e da aranha, naquele momento; com um dedo esticado, rompi seu trapézio invisível e com a teia grudada ao meu indicador fui descendo o graúdo ser. Ela, por sua vez, um ângulo de noventa graus entre o tórax e o resto do corpo, parecia compreender que eu a colocoria no chão. O fio balançou e só aí senti um arapio ao perceber que a única coisa que separava eu da aranha e suas toxinas, era uma etérea corda, a qual ela tinha muito mais habilidade de manejar do que eu. Se houvesse algum problema, ela morreria ou me morderia, quem sabe até mesmo os dois. Quando dei por mim novamente, já soltava aquele objeto de fascínio no chão. Dei uma última puxada para separá-la do fio, com muito esforço tirei a teia de minha mão, olhei para cima sem porquês e havia uma outra aranha lá, procurei a que eu acabara de soltar pelo chão, mas não pude encontrá-la. Busco agora achar sentido a elengância dantesca deste minúsculo animal que, se observado com atenção, guarda a feição dos monstros. Remexo os porquês de sua sedução.
Dos gestos sutis, a delicadeza de sua obra onírica que é a teia. Do misticismo, a feitiçaria que a faz andar por tetos e paredes. De seu melindre analógico, faz juz ao nome feminino. Com uma beleza exótica, oriental e de traços curvos e finos, como o das musas. Atenciosos detalhes que lhe concedem a improvável essência encantadora. Desempenhando seu dúbio papel, a refinada aranha que nomeia sua classe, seria uma sucumbo no imaginário mítico, um monstro bonito e venenoso, mas que sobretudo, é exemplo que renega o ditado que diz que "nada de perto é bonito".
Gessony Pawlick Jr.
Nenhum comentário:
Postar um comentário