Preteridos por muitos, adorados (ainda) por poucos, os carros chineses vendidos no Brasil desde o final da década passada estão fazendo uma pequena revolução no mercado automotivo nacional. Quando as primeiras unidades produzidas no país comunista chegaram por aqui, logo foram alvo de inúmeros testes de qualidade e durabilidade, na tentativa de achar uma explicação convincente para justificar seus baixos preços. A Quatro-Rodas, uma das publicações mais respeitadas do ramo, encontrou essa justificativa no teste de 60.000km do Effa M100 – então o carro mais barato vendido no Brasil:
“Quebra de confiança é um dos mais recorrentes motivos para justificar o rompimento de uma relação, seja ela do tipo que for. Foi exatamente isso que nos moveu a interromper o teste do chinês M100. Uma questão de falta de segurança no carro e, mais ainda, na rede autorizada.” (Quatro-Rodas, Novembro/2009)
Aliado a tal afirmação – que foi compartilhada por outras publicações do setor automotivo nacional -, havia a má fama dos produtos chineses em outros inúmeros segmentos – de brinquedos infantis a eletrodomésticos, qualidade nunca foi o forte da indústria chinesa.
Não houve motivo para alarde, naquele momento, para as montadoras concorrentes estabelecidas há mais tempo no Brasil se preocuparem com o ataque proveniente do maior país da Ásia Oriental. O que estas montadoras não esperavam, era a evolução tão rápida da qualidade dos automóveis produzidos na China. A mesma Quatro-Rodas, em novo teste dos 60.000km com outro automóvel chinês, o JAC J3, deu outro veredicto em sua edição de março de 2012:
“Cordial, ágil e eficiente, a rede JAC é, disparada, a que se saiu melhor nos últimos anos do teste de Longa Duração (...). O J3 aguenta nosso asfalto, nunca ficou parado por falta de peças, os poucos componentes que falharam foram substituídos em garantia, sem discussões, e, à exceção de pequenos e raros deslizes, a rede foi impecável. O resultado não poderia ser outro: J3 e JAC aprovados com louvor.”
Atingindo bons índices de vendas mesmo com o recente aumento do IPI para produtos importados, carros das marcas JAC, Chery e Lifan já causam rebuliço na concorrência: a Ford desde o final do ano passado faz uma campanha oferecendo air-bags e ABS para seu popular Fiesta com preços convidativos, além de ter tornado o Ka o carro mais barato do Brasil; a Fiat queimou gorduras nos preços de Uno e Mille, fazendo com que a dupla figurasse como o modelo mais vendido do Brasil no primeiro trimestre de 2012 (as vendas de Uno e Mille são somadas no ranking da Fenabrave, como se fossem um único automóvel); e a Volkswagen, vendo a reação das concorrentes ao ataque chinês, também baixou os preços da linha Gol e já prepara, em caráter de urgência, uma plástica em seu principal popular, com o objetivo de manter a liderança de vendas conquistada há 25 anos.
Talvez os carros chineses ainda não tenham a mesma confiança – por parte dos consumidores – que os carros produzidos pelas marcas tradicionais estabelecidas no Brasil há algumas décadas. Todavia, é inegável o benefício que estas novas marcas trouxeram ao consumidor brasileiro: concorrência é sempre muito bem vinda!
Leonardo Contin da Costa
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