sexta-feira, 27 de abril de 2012

Deslembranças

Indago-me: o que sobrou daquela noite? Somente xepas de cigarros ou garrafas vazias? Manchas pelos tapetes? Luxúria espalhada a esmo?... lágrimas?... poesias? 

Lembro-me, agora, das noites que chegaram ao fim, por madrugadas e por auroras, mas principalmente pelo tanto que bebi. Ouço sussurarem-me lembranças, em rapsódias e poesias - risos, tristezas e euforias - memórias fervidas, embaladas em boemia. 

Incrível é essa coisa que chamamos de boemia, o amor que nasce e morre a cada raiar de sol, o corpo débil que resta como frangalho de um magnífico torpor de ânimo e juventude. Os beijos que correm o corpo, os olhos que se namoram, as palavras mudas, os afagos, a plena luxúria, os amigos, o charme de cada cigarro, a música, a dança, os diálogos, tudo sobra como fantasma na manhã seguinte onde o homem enfrenta os piores demônios 

Ah! A senhora ressaca, não só a ressaca da bebida, mas a ressaca do ego, a ressaca do amor, ressaca de uma vida medíocre que se volta a viver após uma noite de cenas em close, dignas de Bertolucci. Sentimento que nos mostra como um lindo filme melódico de drama, um filme onde o final é uma sacada, um cigarro e uma caneca de café, com o rosto riscado de lágrimas secas, aceitando ser mais um dos pierrôs que andam à noite a procura de dramas para suas existências monótonas. La comedia est finita, parecem ser as únicas palavras que retumbam no interior de minha mente, até a noite cair novamente, e mais uma vez, tudo de novo acontecer, tentação por tentação, deixando-nos na condição dos seres humanos fracos que somos.

Gessony Pawlick Jr.

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