segunda-feira, 12 de março de 2012

Profissão jornalismo

Outro dia, lendo nada de muito importante, a contra-capa de um livro, deparei-me com a seguinte descrição: selvagem, inteligente, furioso, cínico e sarcástico... um livro cheio de humor, que vai fazer a sua vida parecer um tédio”. O comentário se dirigia ao livro Rum: diário de um jornalista bêbado, de Hunter Thompson.

O personagem principal dessa obra é um jornalista norte-americano que se muda para Porto Rico para trabalhar no Daily News Journal. A trama é para devorar, mas a descrição é um tanto mentirosa. Digo isso porque acabo de fazer um percurso do Teatro Álvaro de Carvalho até o TICEN em oito minutos, corri, suei, tossi e entrei no ônibus.

Eu não fui tão rápido. Usain Bolt faria o mesmo trajeto em três minutos, mas eu não sou o Usain Bolt, além disso, uma severa gripe resolveu trazer mais barreiras e emoção ao meu dia-a-dia.

Há duas semanas, encaro uma dura rotina: acordo às sete, às vezes às oito, atrasado. Chego ao trabalho, encontro uma série de demandas prazerosas, outras nem tanto. Fora da redação, aventuro-me ainda mais.

Ao menos uma vez por semana estou nas ruas, tentando tampar buracos , conseguindo creche para crianças pobres e mães desesperadas, tirando gente da fila de cirurgia. Tem boas coisas também, procuro boas histórias de vizinhos e vasculho o Continente, com o motorista da Parati, para saber o que as pessoas fazem. Outro dia, encontrei dois amigos que conseguem parar todos os dias para jogar sinuca.
Depois que encontramos as histórias, voltamos para redação e é hora de escrever o texto. Antes de fechá-lo, é preciso ligar para a secretária e saber por que as crianças não têm creche. Pronto, agora é só mandar para a revisão. Encerro o computador e dou um tchau aos colegas. São 17h20, atrasadíssimo, ganho uma carona, e a colega me deixa, às 18h08, no TAC. Agora, tenho
que correr até o TICEN.

Como eu já havia dito, cheguei. Sentei, tirei a mochila, recuperei o fôlego e pensei em escrever essas letrinhas aqui. Só porque, realmente, minha vida não pode ser classificada como um tédio. Essa avaliação é generalista e burra, como toda generalização.

A Palhoça é o meu destino. Tenho que chegar à Unisul e o trajeto é longo e, geralmente, eu durmo. Até porque é irritante olhar pela janela e ver o congestionamento da BR-101. Mas, excepcionalmente hoje eu não podia dormir e parei para dizer que os jornalistas têm tudo para fazer da sua vida uma eletrizante viagem de ônibus.

Nícolas David

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