Nome: José Maria Beiro; naturalidade: manezinho da Ilha; idade: pouco mais de 57 anos; vício: cigarro, que ele mesmo enrola; moradia: Casa própria no Jardim Eldorado, em Palhoça; estado civil: divorciado; renda variável mensal: R$ 100. Profissão: catador de lixo.
A primeira coisa que chama atenção em José é o veículo de trabalho. Catadores de lixo, geralmente têm uma carroça e arrastam com os músculos o material arrecadado. Alguns, mais sofisticados, têm cavalos que fazem isso. Mas ele carrega tudo em um compartimento que acopla a sua bicicleta de barra cinza, que já comemorou pelo menos dez aniversários. Às vezes ele se desequilibra, mas ajeita-se no banco da magrela e retoma o trabalho.
A fala é pausada. O único grito foi para que os três cachorros, Totó, Tô Grávida e Retardado, ficassem quietos. O português é correto. Ele sabe formular bem suas frases, surpreendendo pensamentos preconceituosos. É o contrário da lógica, falando de igual para igual. Talvez seja reflexo das mais de 2000 horas dispensadas na formação como analista de sistema, em Curitiba. Ou ainda da extensão que obteve em Economia.
E será que ele não achou os diplomas no lixo? Jamais! Em um descuido de apuração jornalística, esqueci de pedir para ver sua identidade. Mas, espera aí, se José acredita que se chama José Maria Beiro, quem pode discordar?
Os diplomas ficam dentro de uma camisa, no guarda-roupa. Nunca trabalhou na área. Segundo ele, na época em que se formou, 1983, não havia oportunidade. Foi pedreiro, marceneiro, mas a idade avançou e não o chamaram mais para trabalhar. Por isso, há cinco anos, o lixo é a alternativa para sobreviver.
A ex-companheira é que não gostou disso e trocou José por um mais rico. "sem mágoas. Foi melhor assim. Eu não queria ela comigo e com outro". E os filhos? "Graças a Deus eu não os tive", ele emenda. E qual tua referência José? Você se espelha em alguém? "Eu não! Isso é coisa de criança", responde com seriedade no olhar.
Diferente das Pragas, que se contentam em rodar o lixo, José vai atrás de um novo desafio. Conseguiu uma bolsa de estudos no Ceprovi. Lá, realizará um curso técnico em enfermagem. Para manter a bolsa, prestará serviços ao Ceprovi como manutenção do pátio e divulgação da instituição através de panfletos, que ele entregará nas caixas de correio enquanto cata lixo. Agora, a conclusão desse desafio estudantil é seu maior sonho, mas o lixo continuará sendo a profissão de José Maria Beiro.
Nícolas David
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