Confesso que já me senti intrigado com o fato de futuros médicos recortarem um ser humano e inspecionarem suas minúcias desde o fio de cabelo até a ultima terminação nervosa do hálux, também conhecido como dedão do pé. Tratar com mortos não deve ser fácil, então resolvi saber como é a relação entre aluno e corpo desfalecido, por curiosidade ou para justificar minhas críticas.
Surpreendi-me ao saber que os estudantes, que utilizam os cadáveres em suas aulas, rezam uma missa em respeito àquela vida que acabara e em agradecimento à disponibilização de seus corpos para que sirvam de objeto de estudo.
A missa dos cadáveres recém chegados à Unisul da Pedra Branca foi rezada na última sexta-feira, 23 de março. O Evento foi organizado, como sempre, pelos alunos da segunda fase do curso de Medicina, que serão os responsáveis por dissecar o corpo por inteiro.
"Não precisa ser necessariamente uma missa, é uma celebração em respeito ao cadáver que a gente esta estudando porque foi uma vida humana, é uma pessoa que agora serve como material ali nas aula e apesar de ter morrido ainda serve à humanidade de alguma forma", explica a aluna da segunda fase de Medicina, Simone Aparecida Schmitz.
Os corpos são cuidadosamente manuseados, como pude observar numa visita ao anatômico. Recebem apelidos carinhosos para serem identificados com mais facilidade, já que, em sua maioria, são pessoas enterradas como indigentes que chegam à Unisul, através de uma parceria entre a universidade e o Instuto Médico Legal. Mesmo que alguns corpos sejam doados pelos familiares ou por conta própria enquanto vivos nada lhes é anexado que indique qualquer indício de sua vida.
"Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança daquela que em seu seio o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram, acalentou um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que por ele tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome só Deus o sabe; mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir a humanidade que por ele passou indiferente." Oração ao cadáver desconhecido.
Agradecimentos à Simone Aparecida Schmitz
Adilson Costa Jr.
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