Um epitáfio aos amores de outras eras
Ficou fora de moda sofrer por amor. Da qualidade chorosa dos instrumentos febris, perderam-se as lágrimas em uma época de gozo libertino sem expressão. Decaem os boleros, os tangos, os sambas e os blues, restam ritmos e batidas vazias para os corações.
Nossa necessidade pelo intangível se tranformou, o que era antes qualidade dos apaixonados, o celeste pairar fora da realidade, hoje, simplesmente nos impregnou. É uma simples troca de valores no espectral mundo em que vivemos, onde a sociedade se faz via cabo e o cru e simples da realidade bruta, é agora o que queremos.
O amor cortez, nem se quer existe mais, nem as rosas de cabaré, nem as nocauteantes trocas de olhares, que contam-nos nossos pais. As gardenias murcharam com o tempo, e o descompromisso com os sentimentos assim nasceu; longe de nossas cavernas e nossa existência binária, na busca pelo físico, a pureza instintiva do flerte libidinoso floresceu.
Vivíamos a realidade para desfrutar da mentira, hoje, a livre crueza por nós conquistada, é a fuga do intangível, que nestes tempos modernos, nos equilibra ao longo de nossa jornada. Amores ou paixões sinceras, são singelos demodés, até a poesia das músicas, perdeu sua essência em sofrer.
Claro que ainda existem os sofredores de plantão, um saudosista ou outro, um músico insone, um poeta tolo e falastrão. A melancolia do peito, ainda se esconde em copos de uísque, em zonas pelas madrugadas, mas como falta de amor, não como lirismos de uma forma romântica ultrapassada.
Somos mais volúveis? Talvez. Mas não construímos nossa insensibilidade, criamos somente uma nova balança para um novo viver.
Gessony Pawlick Jr.
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