quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O dia em que ganhei uma esmola de um morador de rua!

No sábado (17) pela manhã, aproveitando o último final de semana livre antes das festas de final de ano, peguei o carro, passei no supermercado, comprei alguns alimentos e toquei em direção a Enseada do Brito, com o objetivo de chegar ao Vida Nueva (instituição que cuida de ex-moradores de rua e é mantida por doações de voluntários – a qual será objeto de um dos meus próximos textos aqui no Estopim).
 
Saí de casa com o objetivo de ajudar ex-moradores de rua, mas às vezes a vida inverte os papéis e demonstra que não vivemos num pedestal e que somos tão carentes quanto aqueles que julgamos serem, de fato, os necessitados.
 
Não consegui nem ao menos sair da ilha: numa curva próxima ao túnel Antonieta de Barros, na Prainha, um motorista cortou minha frente, desviei pelo acostamento para não bater e acabei passando por cima de uma pedra, que fez o pneu do meu carro estourar, vindo a amassar a roda dianteira direita.
 
Eu, com minha experiência fenomenal em palpitar sobre assuntos automotivos, me vi diante de uma ‘sinuca de bico’: carro parado, triângulo montado, estepe fora do porta-malas, sob o sol e o calor de 36 graus que fazia naquele fim da manhã, estacionado na região conhecida como cracolândia em Florianópolis e nada da roda amassada sair do carro. Devo ter ficado pelo menos meia hora tentando, com todas as forças e orações possíveis, mas nada da roda desgrudar do automóvel. Ergui o carro com o macaco, depois o baixei, tirei os parafusos das rodas, depois recoloquei pensando que valia mais a pena seguir com o pneu furado até alguma borracharia próxima. Eis que neste momento surge um sujeito de cara amarrada, roupas rasgadas, barba no estilo papai noel, de idade avançada, segurando um saco transparente cheio de latinhas nas costas.
 
Não deu nem tempo de olhar muito para o sujeito, ele já chegou berrando: “para tudo que eu faço o serviço!”. Pensei: “caramba, magro desse jeito, com aparência de estar há alguns dias sem comer, com idade relativamente avançada, ele não vai conseguir”. Ok, em partes eu acertei: não foi fácil, ele tentou arrancar a roda com as mãos, girou o pneu algumas vezes, resmungou um bocado numa crítica insistente aos fabricantes de automóveis, mas, ao final, deitou-se no asfalto quente, colocou as pernas embaixo da roda, de modo que conseguiu erguê-la um pouco e a puxou com os pés, colocando o estepe no lugar do pneu avariado. Só aí ele revelou, depois de muito conversarmos: “fui borracheiro por mais de vinte anos no oeste do estado”.

Não me contive e perguntei como poderia pagar o serviço, mesmo lembrando que só tinha R$5 na carteira. Ele disse que estava morrendo de fome e que precisava de algum dinheiro para levar comida para os filhos, que assim como ele, vivem nas ruas. Por coincidência, eu estava com o carro cheio de alimentos para levar ao Vida Nueva.
 
Vendo que ele falava muito de religião, de Deus e de Jesus Cristo, afirmei: “foi Jesus quem colocou o senhor no meu caminho”, momento em que ele prontamente disse que foi o contrário, foi Jesus quem me colocou no caminho dele. Os dois saíram felizes e satisfeitos, eu com certeza muito mais do que ele, porque aprendi, mais uma vez na aula da vida, que não existe ninguém tão independente e soberano que não necessite de outro ser humano para viver e que, ainda que pensemos que algumas pessoas são dignas apenas da nossa ajuda, temos que ter consciência de que todo mundo tem algum dom que possa nos fazer ainda mais felizes. Pensando bem, acho que não ganhei apenas uma esmola daquele sujeito, ganhei o melhor presente de Natal!
 
Que o nascimento de Jesus Cristo seja motivo de alegria e esperança para todos, FELIZ NATAL!

Leonardo Contin da Costa

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