sábado, 26 de novembro de 2011

Ócio do Tempo


"Compositor de destinos. Tambor de todos os ritmos. Tempo, tempo, tempo, tempo. Entro num acordo contigo. Tempo, tempo, tempo, tempo..." Caetano Veloso – Oração ao Tempo
Às vezes fico a pensar: por que as coisas são assim? Olhando a rua, algo entristece. Pessoas com seus bolos de papéis na mão, com passos apressados, sequer olham para os lados. Sempre com aquele andar rápido, imitam os outros no modo automático (sem nem mesmo estar com presa). Entretanto, alguém quer ficar para trás? É fato que não. A época moderna corrói. E o tempo, absorve.

Permito-me comparar com um rio de águas calmas. Tudo é leve na parte superior - mais quente -, tendo vida e cores. Quando se dirige para as profundezas, torna-se gélido, com “pouca” biodiversidade e nada que chame realmente a atenção. E é assim o tempo que se vive hoje. Superficialmente inútil, com suas exigências macabras, apesar de aparentar leveza e liberdade. Ilusório talvez? Muito controverso dos anos que já se foram: aqueles nos quais ''Maria'' era um nome diferente, que mulheres de calça eram rebeldes, que Plutão era um planeta, que cartas eram meios de se comunicar, que os cabelos tinham algo de natural, que festas eram bailes de máscaras e que ainda se podia dormir com a janela destrancada. O tempo em que o superficial estava longe do ideal.

Meu questionamento sobre o ''clic clic'' do relógio está obsoleto. Já passam trinta minutos que se cria filosofia nessas linhas e ainda não conseguimos parar o todo poderoso. Quem pode contra ele, afinal? Durante esse período, quantas coisas já não aconteceram? Se esperarmos mais dez preciosos minutos, uma pessoa morrerá de acidente de carro nas rodovias. Se esperarmos o dia, chegamos a somas de quatrocentos e onze feridos, sendo que trinta deles morrem. E que tal as assustadoras estatísticas que a cada cinco segundos uma criança falece por fome? Por um momento, tudo agora é desesperador. Possuía absolutamente mais células jovens e meu ''futuro passado'' estava definitivamente mais distante. Nessas últimas frases, morreu mais um inocente. Quantos já foram neste parágrafo, duas, três? Desesperador, não é?

Fica-se nesse ócio. As pessoas continuam apressadas e iguais às profundezas do rio. Umas são ocas, outras fingindo ser e mais alguns pendurados que já endoidaram há muito tempo. Tudo parece bom, tudo parece perfeito, todavia é tão rente que dá aflição. O tempo continua, desfila por todos. Profundo, ou superficial passeia devagar entre a massa. A cada dia, a cada hora, a cada minuto, segundo, milésimo...


Rafaela Bernardino

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