sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Aos membros da Jângal


Um mês e vinte e seis dias para que, entre champagnes e alegóricas demonstrações de afeto, coberto de branco, o ano encerre-se. Acho que chega hora de confessar que me encontro um bocado cansado.

Não pense que meu trabalho tenha sido árduo, ou que minhas contas naveguem em mares bravios. Não. Canso, simplesmente porque sou humano, e desejo do alto de meu narcisismo, queixar-me do que se refere a mim. Não farei aqui discurso moralista, pois estou farto de minhas palavras que retumbam em meu próprio vazio, sem sucesso de convencer-me. Não cantarei desgraça em poesia, como não apontarei nos outros, defeitos meus, sem dar-me o devido descrédito; nem tampouco proporei novas reflexões, por isso não esperem demais, escrevo aqui hoje, pelo simples compromisso de escrever.

Encontro-me saturado de conviver com o bichinho favorito de Deus, de seus zurros intelectuais nos ônibus e bares, de seus cantares cigarrinos, empoleirados em púlpitos, deflorando as mentes com seu zumbido agudo; cansado dos arrulhos sobre suas hipócritas humildades enquanto mendigam atenção; esgotado, dos uivos carnívoros que dominam outdoors e jornais, exausto, das mariposas e cotovias de esquinas na corrida pela carne, mas principalmente, cansado de conceitos e pseudo-morais que tingem minhas plumas de negro.

Torno-me igualmente bicho, não estou tão longe daqueles que caçam-se lá em baixo, só que diferentemente, alimento-me de carniça, sou preguiçoso e não desejo mudar o mundo, sou o abutre que espera que todos matem-se ao meu olhar, aguardo tranquilo o inevitável banquete que vem depois; detalhe que não faz de mim melhor, para outros olhos de rapina, quem sabe, até pior. Estou pousado no alto poste do ego, que ilumina a todos nós, e como observador, avisto daqui um zoológico humano, de mesquinhez e egocentrismo, com cada macaco abraçado ao galho que lhe é por direito, com a natureza e o instinto sobrepondo-se a filosofias e ensinamentos ultrapassados, dividindo-se em jaulas, castas e linhas de montagem, sobrevivendo devido as grades impostas, separando-os antes que engulam-se uns aos outros; ao final somos ainda submetidos as velhas leis da jângal, encarcerados pela mesma moralidade, mas em uma selva de pedra. Certas horas, sinto orgulho de ser o abutre que sou, mas devo confessar que às vezes cansa-me também comer só carniça.


Gessony Pawlick Jr.

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