sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sobre mineiros e alquimistas

Peguei-me outro dia desta mesma semana, entre um café e um cigarro, sentado esperando a tarde passar. Cavoucava o íntimo de minha cabeça em busca de uma escondida jazida de ideias que eu ainda não houvesse explorado. Parecia-me homérica aquela busca, verdadeiras pepitas de inspiração eram raras, mas até mesmo réles opiniõezinhas baratas estavam difíceis de se encontrar, sofria com a escassez de conteúdo nos últimos dias, peneirava pensamentos em busca de qualquer grão de conceito, mas somente temas eram fáceis de achar, encrustavam chão e paredes, fazendo com que se tropeçasse e atrapalhavam a linearidade do caminho que me conduzia a merecida ideia que eu esperava golpeando pedra após pedra.

Mas lhes digo, ideias são assim mesmo, difíceis de se encontrar quando preciso. São preciosidades avaliadas no brilho característico que cada uma possui, diamantes intangíveis, nascidos de simples carvão escondido que vagarosamente mutou-se por influência externa; ideia é um minério sem forma, sem cor e sem mina específica, mas o pior de tudo, facilmente surrupiável, pequenas ou grandes, elas sempre continuam leves o suficiente. Nem sempre são reconhecíveis, são ouro de tolo, e podem, drasticamente, enganar sobre seu valor. Também que não 'hão de haver' duas iguais, se assim for ou é cópia ou técnica; é preciso prática para se reconhecer uma ideia genuína e material necessário para lapidá-la como devido.

Mas a ideia sempre é bruta, e são escassos os mineiros ourives, como disse-me um mestre geólogo certa vez "A ideia é uma mulher nua, linda por natureza, mas é preciso saber vesti-la". Nunca a joia estará presa a parede, esperando que o dono venha a seu encontro. Justamente por isso, há ourives que roubam, há mineiros que jogam fora suas pepitas, há também aqueles que agarram-se a pedrinhas inúteis e creem veementemente que são verdadeiras ideias, mas a maioria fecha os olhos na gana da UMA pepita, porém é de tanto se bater em rocha firme, que hora ou outra, se aprende que de nada vale a exaustão, ou logo contenta-se com temas e pautas espalhados nas minas, ou resolve de vez, tornar-se um alquimista.

Gessony Pawlick Jr.

Um comentário:

Crispi. disse...

Mas vou dizer, as vezes a gente fica olhando, olhando essa jóia e é tão difícil lapidá-la, que a gente joga numa gaveta e esquece por lá, até outro momento.