Camila Albuquerque
Mulher fora dos eixos! Como vou entender o que ela diz se nem mesmo ela se
entende? Vai dormir falando mal de pagode e acorda cantarolando uma música
chinfrim na cozinha. Levantei pra xingar a bipolaridade dela, mas ficou
impossível quando ela sorriu pra mim vestindo só a camiseta do meu pijama. Ela
tinha muito disso aliás, sempre usava dos seus atributos pra me deixar com cara
de moleque.
E tava lá ela no bar um dia, conversando com as amigas sobre
algo fútil qualquer, nem agucei os ouvidos pra entender, só ouvia aquela voz
estridente e infantil falando e gargalhando, alto, sempre a mais escandalosa do
grupo. Tomava um gole de água com gelo, apertava minha mão e cochichava algo
como "não aguento mais esse lugar, vamos sair daqui, vou dizer que a culpa
é sua", e ela dizia e concordava com as amigas quando as tais me chamavam
de chato pelas costas. Me odiavam e ela adorava isso. Maluca. Eu pouco ligava.
O caminho de volta para casa era sempre o mesmo, ela
lamentando a falta de amigas interessantes e prometendo ser a última vez que
sairia com elas.
Entrava na sala já arrancando o sutiã e respirando alívio
por poder tirar aquilo, ela simplesmente odiava, vivia faceira quando, por
sorte, fazia muito frio e a quantidade de casacos dispensava o uso deles.
Sempre me ligava contente nos dias em que isso acontecia.
Acendia a luz do quarto e já anunciava que queria transar,
ela sempre estragava todo e qualquer clima que pudesse acontecer, tinha essa
necessidade insuportável de avisar quando e como iria fazer. Lembro até hoje da
nossa primeira vez, quando eu perguntei se ela não iria tirar as meias e ela
encolheu as pernas num reflexo tão rápido que me embasbaquei, "não! eu só
faço com meias, se te incomoda eu posso vestir o resto e pedir uma pizza".
Até hoje coleciona as malditas meias, carrega na bolsa e outro dia entrou no
chuveiro comigo assim. Vai entender.
Tudo ora era chato e legal, irritante, fedia, tinha gosto
ruim ou não tinha graça pra ela. Até comigo, disse uma vez que na verdade não
gostava muito de mim, que não tínhamos gostos parecidos e que eu era muito
chato. Me fez sair bufando o dia em que disse isso e eu senti que só tava ali perdendo
o meu tempo. No dia seguinte, sem pedir desculpas ou retirar o que havia dito,
simplesmente disse o quanto me amava e o quanto éramos iguais em tudo. Maluca.
Foi quando decidi que não adiantava mais agir racionalmente
com alguém que não tinha razão alguma. Ela me amava e eu amava ela. Ela era
minha e esse é o início e o fim da história.
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