terça-feira, 1 de outubro de 2013

Talvez única no mundo todo

Camila Albuquerque


Fiquei com medo de entrar no portão errado. Por um instante pensei que todos estavam enganando a caipira na cidade grande. Por via das dúvidas perguntei pra mais sete pessoas que caminhavam naquela mesma direção. O último deles me deixou intrigada ou com medo, ainda não parei pra pensar bem sobre isso.

"Entra pelo portão de trás, segue reto que você vai encontrar um túnel incrível feito de bambus e do lado dele uma árvore talvez única no mundo todo.". Quem que fala assim? - pensei.

Segui no caminho indicado, não sabia se estava andando ao encontro de um túnel incrível feito com bambus ou se seria um assalto coletivo. Por via das dúvidas - de novo, escondi o celular na manga justa do casaco. Ninguém desconfiaria de uma anomalia retangular no antebraço. Certamente que iriam acreditar que eu estava sem celular e levariam só a bolsa, com os cartões dentro (que tinham senha). Então segui mais ou menos tranquila.

Passei por algumas estufas e plantações esquisitas. Nunca fui grande admiradora de flores, folhas e mato no geral. Então não parei pra ler aquelas plaquinhas entediantes que ficam infincadas debaixo de cada planta ou árvore. Rosa-das-que-sejam do latim Não-dou-a-mínima.

O sol estava a pino e me fez vestir um shorts curto e quase indecente - se eu assim fosse. Enquanto puxava as pontas pra baixo e teimava em continuar com o casaco me deparei com a coisa mais majestosa que já vi em toda minha curta e pouco vivida vida.

"Uma árvore talvez única no mundo todo."

Ela era incrível. Alta e cheia de curvas que abraçavam o também incrível túnel feito de bambu. Ela se entrelaçava com as vigas tão majestosamente que parecia ter sido feita a mão. Como em um concerto de balé elas dançavam juntas e sincronicamente, resolvi sentar pra assistir.

As flores que nasciam dela eram de um tom de rosa que sempre imaginei na minha cabeça mas nunca enxerguei de outra forma que não em sonho. Ora era roxa (minha cor preferida), ora era rosa "pink" ou rosa mais-forte-que-existe.

Tirei inúmeras fotos, ansiosa pra enviar pra uma tulha de gente e pouco antes de fazer isso desisti. Senti como se aquele momento fosse só meu, afinal eu chegara ali sozinha, estava ali sozinha e decidi contemplar todo aquele cenário sozinha.

Deitei no banco que ficava planejadamente embaixo dos bambus, desliguei o celular e fechei os olhos. Cantarolei mentalmente uma música que achei apropriada para a situação e senti o vento balançando e dançando junto com os galhos, os bambus e as flores. Confesso que deixei escapar um sorriso pelo canto da boca por estar vivenciando algo que poucos enxergariam ou sentiriam.

"Uma árvore talvez única no mundo todo."

Não era um assalto enfim. Aquele senhor careca de uns sessenta e tantos anos não poderia ter sido mais feliz e justo na sua descrição. O agradeci mentalmente e já adicionei uma irônica nota mental de parar de fazer coisas essenciais apenas mentalmente.

Levantei, juntei um punhado de flores caídas pelo chão e amassei-as dentro de um livro. Segui em direção ao resto do parque e voltei a respirar o ar das pessoas insensíveis.

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