quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Os traços do humor

Repórter Ping-Pong

Ele começou a rabiscar textos e desenhos aos cincos anos. Depois disso, jamais parou e agora insiste em sempre fazer piada. Aos 20, recebeu o diploma de graduação no curso de Jornalismo da UFSC. Nessa mesma época, publicou as primeiras charges no Jornal O Estado.

Há 15 anos, a graça das charges de Zé Dassilva chegam a todo o Estado de Santa Catarina por meio do Diário Catarinense. E a atividade profissional é ampla: Zé também atua como roteirista da Rede Globo. Já escreveu para séries humorísticas de sucesso como Casseta e Planeta, Sai de Baixo e Sob Nova Direção.

Em 2012, publicou um livro com as charges do ano. Além disso, acaba de lançar o blog Chiclete pro Cérebro onde vai publicar as charges que faz para o DC e eventualmente as crônicas que seu pensamento puderem expressar. Lá, o leitor encontrará, nas palavras de Zé Dassilva, materiais que estimulam a mastigação craniana.

Formação e ideias

Repórter Ping-Pong - Vamos iniciar falando sobre a sua formação. Você chegou a fazer algum curso superior? Jornalismo, design?

Zé Dassilva - Estudei Jornalismo na UFSC, onde me formei com 20 anos e já trabalhando. Depois, quando me mudei pro Rio de Janeiro, fiz pós-graduação em cinema-documentário na FGV.

Ping - Quando o Zé Dassilva nasceu como chargista? desenhava por Hobby?

Zé Dassilva - Sempre digo que passei a vida fazendo a mesma coisa desde os cinco anos, quando minha mãe me ensinou a ler: ficar em casa escrevendo e desenhando. A diferença é que hoje sou pago para isso.

Ping - O que é uma charge na sua concepção?

Zé Dassilva - Eu defino como uma crônica ilustrada do cotidiano e do noticiário.

Ping - O que não falta numa charge assinada por Zé Dassilva?

Zé Dassilva - A tentativa da piada.

A imprensa

Ping - Quando foi sua entrada na imprensa? Foi no DC essa estreia?

Zé Dassilva - O primeiro jornal a publicar minhas charges foi O Estado, quando eu tinha 20 anos. Fiz muito desenho para jornal de bairro, panfleto publicitário e coisas assim antes de começar no Diário Catarinense, aos 24 anos.

Ping - Nesses 15 anos de DC, o que mudou na sua atividade no jornal? O Jornal mudou para você? Santa Catarina mudou?

Zé Dassilva - Santa Catarina mudou, claro. Um tema como crime organizado queimando ônibus, por exemplo, seria impensável em 1998. O jornal também mudou, porque se modernizou com as novas plataformas que surgiram: tablet, redes sociais etc.

Ping - No auge da ditadura um grupo de jornalistas e chargistas se reuniu para criar um jornal revolucionário contra o regime. Falta ousadia artística, humorística e intelectual na imprensa atual com essa que o Pasquim provocou?

Zé Dassilva - Falta sim, não dá pra comparar. Talvez, a dificuldade daquela época tenha impulsionado a criatividade e a ousadia deles. Hoje, o Pasquim seria um blog, já que a comunicação "alternativa" se dá muito pela internet. É ali que está a chance de ser ouvido para quem está fora da grande mídia. Mas cuidado: dizem que os grandes veículos manipulam, mas a internet também manipula. Tá cheio de gente bem-intencionada que compartilha links sem credibilidade e com notícia inventada. Repassam mentiras sem conferir a veracidade antes e acabam sendo manipulados.

Ping - Por que o futebol e política são temas recorrentes nas charges dos jornais?

Zé Dassilva - Tradicionalmente, o futebol sempre foi uma mola propulsora das vendas, principalmente nas edições de segunda e quinta-feiras, com as matérias sobre a rodada da véspera. E a política sempre mexe com o povo, eu acho engraçado quando vejo eleitores tucanos e petistas discutindo a conjuntura como se fosse um imenso Fla-Flu. Fora o fato que a maioria dos políticos pisa na bola e se leva a sério demais, o que colabora para rirmos deles. Por isso, gosto de explorar esses dois temas.

Outras atividades

Ping - Você lançou no passado Riscando o Ano, um livro com suas charges. Essa publicação serve para preservar a memória de sua carreira?

Zé Dassilva - Sempre que faço uma charge, penso num cara daqui a 50 anos, pegando aquele desenho e, a partir dele, entendendo umpouco do mundo que vivemos hoje. Penso isso porque eu também sou esse cara, pois faço isso quando vejo charges antigas. Reunir em livro facilita a vida de quem vai dar valor a meu trabalho no futuro ou, pelo menos, ajuda o pessoal de hoje a ter essas charges num suporte mais duradouro do que o papel jornal.

Ping - Você é usuário assíduo do Twitter. Essa rede social é uma extensão do seu trabalho? Uma plataforma de divulgação?

Zé Dassilva - Eu uso muito o twitter como termômetro da ideia para a charge. Penso uma coisa, posto lá e vejo se tem comentários ou retuitadas. Se tiver bastante, eu faço a charge em cima daquilo. Se não tiver repercussão nenhuma, começo a pensar em outra coisa.

Ping - E quanto à atividade na Globo? Que trabalhos você já desempenhou e desempenha?

Zé Dassilva - Eu entrei na TV aos 26 anos e sempre desempenhei a função de autor-roteirista. Para resumir: nosso trabalho é criar novos programas, pensar histórias para os programas que já estão no ar, escrever diálogos, criar personagens e por aí vai. Comecei no Casseta, passei por Sai de Baixo, Aline, Casos & Acasos, Sob Nova Direção, Caras de Pau, Malhação e Linha Direta, onde fui redator-final. Agora estou na equipe de criação de um novo humorístico que deve estrear em dezembro. Além disso, fiz alguns trabalhos em animação para o esporte da Globo e para o SporTV.

Ping - O que será o seu novo blog, Chiclete pro Cérebro? E Explique o porquê desse título.

Zé Dassilva - Tudo que é meio passatempo eu sempre defini como "chiclete pro cérebro". Também acho que a cultura pop seja um pouco "chiclete pro cérebro". Rabiscos são "chicletes pro cérebro". Enfim, é tudo que estimula a mastigação craniana, por assim dizer. Ali no blog vou colocar não só charges, mas crônicas também, vídeos... Até álbum de figurinha antigo eu já botei lá. Mas vou botar o conteúdo de alguns livros raros que tenho aqui em casa, também. Não conheço muitos blogs que tenham uma sessão "Biblioteca".

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