quinta-feira, 14 de março de 2013

Sobre maturidade e a Highway

Cristina Souza

Dia desses fiquei pensando orgulhosamente no quanto fui me tornando mulher. Afinal, estou perto dos 24 anos, pago quase todas as minhas contas em dia, tenho minha moto, moro sozinha – enfim, um leque de coisas que me fizeram perceber que passei de menina para mulher. Porém, depois de passar essa euforia inicial pela minha recém descoberta, percebi também o quanto sou menina. Ligo chorando, às vezes, para minha mãe, durmo com a televisão ligada porque tenho medo, já atrasei dinheiro do aluguel porque fui ao cinema e tenho vergonha de comprar camisinhas - o que não quer dizer que eu tenha vergonha de falar abertamente sobre sexo.

Percebi que não existe ninguém completamente adulto. Sempre tem um porém. Não adianta me dizer que não: impossível que não exista uma criancice dentro de você. Eu sei que tem. E quer saber? Ainda bem que tem! É muito chato ter que ser adulto o tempo todo. Já não bastam aquelas coisas que são inadiáveis – como ir ao banco, por exemplo, ou então passar horas na fila da Celesc, ter que deixar de ver Sessão da Tarde por causa do trabalho ou ter que pagar suas próprias contas em vez de gastar só com festas e etc.

Mas, mesmo tendo que passar por essas chatices da vida adulta, é bom reservar um tempo para ser criança. É bom ser imatura às vezes. É bom tomar Nescau e ver Sessão da Tarde, sentir vergonha na hora de comprar camisinha e ter medo do escuro. Essas coisas fazem a gente aprender a encarar a vida adulta com mais leveza e tranquilidade. E se você tem medo de crescer, se acha imaturo demais para enfrentar os perrengues de ser adulto, eu te digo: a vida te ensina na marra. Mesmo. Vai por mim.

Outra coisa que fiquei pensando foi sobre a liberdade: quanto somos livres? Nessa minha onda de pensar que sou adulta, a vida é minha e não devo nada a ninguém (banco não conta), fiquei me achando a mais livre das mulheres. Livre pra vestir o que quisesse, falar o que eu quisesse e fazer o que bem entendesse. Até o dia que minha mãe descobriu que eu fumava – coisa que escondia dela (cadê a liberdade?) e ficou sem falar comigo por dois meses. Sou tão livre que nem podia decidir sobre os males causados ao meu próprio pulmão. Tão madura que tinha medo de contar, à beira dos 24 anos, que eu fumava. Com meu próprio dinheiro, aliás.

Humberto Gessinger já via as placas dizendo "não corra, não morra, não fume". Eu vejo placas, matérias, manuais, reportagens e infinitas coisas me dizendo o que devo ou não fazer, polindo minha liberdade, manipulando minha maturidade e condenando a minha imaturidade. Isso tudo me confunde um pouco. Essas são as horas que ligo chorando para a minha mãe ou então ligo a televisão para não ficar sozinha no escuro. Mas, depois, entendo que os outros sempre vão dizer o que tenho ou não que fazer e sigo numa das curvas da Highway.

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