quarta-feira, 20 de março de 2013

Homenagem à Elis Regina

Thaís Teixeira

Dia desses, um amigo me fez a seguinte provocação:
Onde você está arrumando inspiração agora que voltou para o Brasil?
Respondi um pouco desconcertada:
Não estou, porque ainda não tive que escrever.

A hora chegou e estou aqui empacada feito burro. Não sai uma letrinha se quer, apesar de ter assunto aos montes. Aí, pensei em falar sobre a Elis Regina. O furacão da música brasileira que, no último domingo, 17 de março, completaria 68 anos se a morte não a tivesse levado, o que foi uma infeliz ideia.

Peguei um livro que tem um título promissor a fim de conhecê-la mais, Elis Regina – por ela mesma. Para minha decepção, a obra traz somente entrevistas e uma cronologia da sua carreira na música. Não se trata de uma autobiografia. Bom, isso eu acho no Google. Desisti do livro e fui procurar algo no Youtube. Duas entrevistas, de péssima qualidade e com informações que eu também posso achar no Google.

Nesse caso, eu poderia criar e por a minha imaginação para funcionar. Na década de 1960, quando a MPB e a Bossa Nova perdia lugar para os tropicalistas e a jovem guarda, e o cenário musical sofria uma revolução estética, por conta das influências internacionais e a ebulição política e cultural em que o país se encontrava, Elis fez parte da turma dos conservadores a princípio. Mas, e como ela se posicionaria hoje, vendo o cenário musical da nossa geração?

Outro tipo de revolução baseada no ganhar dinheiro e na ascensão midiática? Uma vontade de idiotizar ainda mais uma geração bastante alienada por uma cultura que perde, dia após dia, suas raízes? Independente do pensamento de Elis, o meu posicionamento estaria evidenciado nessa história. E por isso desisti da ideia de trazê-la para o presente.

Que tal me levar para o passado? Ah! Como eu queria fazer uma viagem no tempo e cair de pára-quedas nos bastidores do Fino da Bossa. Quem sabe, até mesmo conseguir uma entrevista com a pimentinha como dizia Vinícius de Morais. Aí, com certeza, colocaria toda a minha ousadia de repórter e a fim de conhecer Elis Regina Carvalho Costa e não somente o mito da música.

Quem foi a mulher, a mãe, a menina, a amiga? Quais seus medos, seus sonhos e por aí vai. Se bem que do jeito que a tecnologia avança, não duvido que daqui a alguns anos essa máquina seja inventada. Cientista, se você conseguir esse feito, lembre-se: eu sou a primeira da fila!

Mas, esse texto tem data e hora marcada para ser publicado e não posso ter a sorte de esperar a tão sonhada entrevista. O que me resta então? Onde se meteu a inspiração? Volto para o Google e começo a anotar algumas informações sobre ela. Signo: peixes. Primeiro ídolo: Cauby Peixoto. Nome: inspirado em um livro de literatura. Uma frase: “No fundo a gente é consequência daquilo que as pessoas e a vida fizeram com a gente”.

De posse dessas informações que o Google me ofereceu, penso no primeiro parágrafo. Posso começar falando sobre seu signo. Peixes: “Pelo lado positivo, é imaginativo e sensível. É amável e tem compaixão. É intuitivo e pensa nos demais. Pelo lado negativo, não assume a realidade. É idealista, mantém segredos e tem uma vontade algo débil. Deixa-se levar pelos demais”. Tudo bem, sou fã de Elis, mas esbarro na mesma problemática que me faria entrar numa máquina do tempo. Eu conheço muito bem a cantora, não a pessoa. Como, então, defini-la por meio de seu signo?

Ligo o som e coloco a música Maria, Maria. Faço isso para ver se tenho uma ideia genial de como usar as informações que possuo para escrever um artigo. Mas, fico hipnotizada pela sua voz e pela letra. Não consigo transpor a emoção para as palavras e nem pensar em um jeito de trazer Elis para o meu texto.

Não desisto do texto. Quero Elis aqui porque eu a admiro, porque sua voz faz parte dos meus singelos 19 anos e, finalmente, porque desejo que as palavras marquem, na história efêmera das músicas de hoje, que existiu uma Elis Regina. Aos poucos, enquanto a música vai chegando ao fim e ela canta “Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre”, começo a assumir que o único jeito de eu conseguir ver sua alma, ver sua pessoa é ouvindo-a cantar. Elis é um passarinho, que canta com amor e com vida. É uma espírito que volta nas ondas sonoras de suas músicas e invade nossos ouvidos com toda a emoção e alegria, a mesma sensação que provocava no público durante seus shows.

Nenhum comentário: