Thaís Teixeira
Onde você está arrumando inspiração agora que voltou para o Brasil?
Respondi um pouco desconcertada:
Não estou, porque ainda não tive que escrever.
A hora chegou e estou aqui empacada feito burro. Não sai uma letrinha se quer, apesar de ter assunto aos montes. Aí, pensei em falar sobre a Elis Regina. O furacão da música brasileira que, no último domingo, 17 de março, completaria 68 anos se a morte não a tivesse levado, o que foi uma infeliz ideia.
Peguei um livro que tem um título promissor a fim de conhecê-la mais, Elis Regina – por ela mesma. Para minha decepção, a obra traz somente entrevistas e uma cronologia da sua carreira na música. Não se trata de uma autobiografia. Bom, isso eu acho no Google. Desisti do livro e fui procurar algo no Youtube. Duas entrevistas, de péssima qualidade e com informações que eu também posso achar no Google.
Nesse caso, eu poderia criar e por a minha imaginação para funcionar. Na década de 1960, quando a MPB e a Bossa Nova perdia lugar para os tropicalistas e a jovem guarda, e o cenário musical sofria uma revolução estética, por conta das influências internacionais e a ebulição política e cultural em que o país se encontrava, Elis fez parte da turma dos conservadores a princípio. Mas, e como ela se posicionaria hoje, vendo o cenário musical da nossa geração?
Outro tipo de revolução baseada no ganhar dinheiro e na ascensão midiática? Uma vontade de idiotizar ainda mais uma geração bastante alienada por uma cultura que perde, dia após dia, suas raízes? Independente do pensamento de Elis, o meu posicionamento estaria evidenciado nessa história. E por isso desisti da ideia de trazê-la para o presente.
Que tal me levar para o passado? Ah! Como eu queria fazer uma viagem no tempo e cair de pára-quedas nos bastidores do Fino da Bossa. Quem sabe, até mesmo conseguir uma entrevista com a pimentinha como dizia Vinícius de Morais. Aí, com certeza, colocaria toda a minha ousadia de repórter e a fim de conhecer Elis Regina Carvalho Costa e não somente o mito da música.
Quem foi a mulher, a mãe, a menina, a amiga? Quais seus medos, seus sonhos e por aí vai. Se bem que do jeito que a tecnologia avança, não duvido que daqui a alguns anos essa máquina seja inventada. Cientista, se você conseguir esse feito, lembre-se: eu sou a primeira da fila!
Mas, esse texto tem data e hora marcada para ser publicado e não posso ter a sorte de esperar a tão sonhada entrevista. O que me resta então? Onde se meteu a inspiração? Volto para o Google e começo a anotar algumas informações sobre ela. Signo: peixes. Primeiro ídolo: Cauby Peixoto. Nome: inspirado em um livro de literatura. Uma frase: “No fundo a gente é consequência daquilo que as pessoas e a vida fizeram com a gente”.
De posse dessas informações que o Google me ofereceu, penso no primeiro parágrafo. Posso começar falando sobre seu signo. Peixes: “Pelo lado positivo, é imaginativo e sensível. É amável e tem compaixão. É intuitivo e pensa nos demais. Pelo lado negativo, não assume a realidade. É idealista, mantém segredos e tem uma vontade algo débil. Deixa-se levar pelos demais”. Tudo bem, sou fã de Elis, mas esbarro na mesma problemática que me faria entrar numa máquina do tempo. Eu conheço muito bem a cantora, não a pessoa. Como, então, defini-la por meio de seu signo?
Ligo o som e coloco a música Maria, Maria. Faço isso para ver se tenho uma ideia genial de como usar as informações que possuo para escrever um artigo. Mas, fico hipnotizada pela sua voz e pela letra. Não consigo transpor a emoção para as palavras e nem pensar em um jeito de trazer Elis para o meu texto.
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