quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Um adeus e um desabafo recheado de lembranças

O coração aperta e a sensação de estar deixando para traz um dos melhores laboratórios de aprendizagem que eu poderia ter participado me amedronta. A gente morre de medo do novo, de arriscar, de dar um “All-in”. Morre de medo porque é difícil sair da zona de conforto, pular para o incerto, testar outras possibilidades, experimentar novas sensações. Ter medo não é ser fraco, ao contrário. É preciso ser muito, muito forte para admitir e, principalmente, aceitar que ele existe.

Deixo hoje um pedaço de mim aqui dentro. Todas as inúmeras noites mal dormidas, as tardes de entrevistas, as conquistas e também as derrotas, de algum modo me mostraram que sempre chega um momento em que a página precisa ser virada e o livro continuar a ser escrito. Meus vínculos com o Estopim vão muito além de uma questão profissional. É um amor, uma paixão por algo que acredito que um dia pode trazer volta ao mundo o bom jornalismo. O Jornalismo que não é publicidade, não é marketing e não é audiência.

Nunca engoli essas baboseiras que saem nos jornais diários, nem esse jornalismo que é praticado nas redações. Matérias que não me acrescentam, que nada mais são do que o feijão-com-arroz requentado todos os dias, além das pessoas que deixaram morrer o senso criativo e já se entregaram a um sistema mecânico e massivo. O profissional se tornou um mero vendedor de noticias e a profissão uma máquina enferrujada de fazer a noticia.

Pela última vez estou sentada no meu cantinho aqui na redação de um desses jornais corporativos para escrever ao JORNAL que acredito ter um potencial muito maior do que hoje demonstra ter. Antônio Houaiss diz que estopim é um fio embebido em matéria inflamável que comunica fogo a uma carga explosiva; uma causa que provoca uma reação. Na minha concepção, o Estopim é muito mais do que apenas aquilo que gera uma explosão. O Estopim é um sonho, um amor, uma dedicação diária em prol de mudanças consistentes e significativas.

Por mais de quatro meses estive aqui movida por essa ideia e paixão. Uma vontade irresistível de dar voz a outras pessoas, de fazer com que o que estava sendo publicado aqui fosse o estopim de conversas, discussões. Sempre segui contextos, vozes e acontecimentos. Horácio me disse uma vez que eu tenho um defeito (não lembro bem se foi essa a palavra usada, mas foi algo assim) que o é ter resistência a dar aquilo que os outros jornais estão dando. Eu me orgulho disso, só duas vezes o Estopim fez matérias que já haviam saído nos dois jornais da ilha. Digo a Horácio que eu vou continuar me opondo ferrenhamente a seguir as pautas e agendas desses veículos. Fomos [ainda me incluindo na patota] concebidos para fazer a diferença em todas as escalas possíveis, e isso me faz acreditar que não é preciso copiar nada, nenhum modelo, sistema, esquema ou qualquer outra coisa que seja. O Estopim tem qualidade profissional e autonomia para fazer suas próprias pautas e agendas.

Já chorei, já pensei, repensei, trepensei. Já me perguntei todas as vezes imagináveis se eu não ia me arrepender dessa decisão. Fiquei horas e horas olhando texto por texto, analisando cada linha estética mantida pelo Sebastião (que eu espero que continue a ilustrar brilhantemente esse espaço). Mas sabe, de que vale ficar prevendo o futuro ou vivendo de lembranças? Se o presente é o que importa? Finalmente desisti de tentar descobrir o que vai acontecer. Dou agora o meu All-in, apostando no meu sucesso pessoal e profissional fora do Estopim. Vou atrás de outros mundos e outros sonhos.

Tenho a total certeza do potencial que esse jornal tem e por isso deixo-me a disposição para qualquer sufoco. Desejo toda sorte e sucesso, que o Estopim consiga construir dentro e fora da universidade um espaço de multiplicação de conhecimentos, polifônicos, com conexão de ideias, inteligente e pluralista. Que seja um local de convivência, troca de experiências e jamais uma estrutura física de concreto que visa a marcação territorial. O Estopim tem que praticar a ocupação espacial.

Tem um filme que eu já assisti pelo menos umas três vezes, o qual me identifico muitíssimo e que marcou muitas das coisas boas que me aconteceram nos últimos meses: O Fabuloso Destino de Amelie Poulain. Dentre todas as inúmeras frases que ficaram marcadas na cabeça, uma em especial encerra um ciclo que, ironicamente, foi iniciado com a mesma: “Nada impede. O inesperado acontece”.




















Thaís Teixeira

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