sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Noite compartilhada com as vozes interiores

Uma noite escura e fria, iluminada sob a luz do abajur velho e empoeirado. Uma caneta e um papel arrancado de um caderno são as únicas distrações, além da lua cheia que está maravilhosa.

As idéias correm como trens-bala desenfreados, que não tem destino certo para parar e nem passageiros para mudar a trajetória desconhecida. O único barulho possível de ser escutado é o dos ponteiros do relógio de parede, que está quebrado, como se estivesse atemporal.

A vontade de desistir era grande. Não que estivesse tão mal, mas a procrastinação era imensa naquela noite solitária. Como um diabinho do lado do ombro "aconselhando" a deixar tudo para trás, para mais tarde. A solidão nem é tão ruim, é a companhia mais presente durante a vida. Especialmente nos dias mais frios e tristes, quando nenhuma amizade está presente, a solidão está para acobertar todos os sofrimentos e pesares. Além de tudo, a solidão é uma amiga influente e criativa, dando idéias malucas a toda hora.

Como se acompanhasse a velocidade das idéias, o papel começa a tomar forma com os desenhos e escritos. Nem é necessário olhar para a folha, a ponta da caneta faz esse serviço enquanto dança a sua valsa, orgulhosa e sem um pingo de timidez.

Seria perfeito se estivesse nevando lá fora, e se tivesse uma lareira daquelas, de tijolos vermelhos, como nos filmes americanos. Mas aqui o clima é limitado... Pelo menos, a imaginação permite que flocos de neve caiam na ponta da língua e derretam quase que instantaneamente. Mesmo isolado numa casa escura e velha, quase que mal-assombrada.

Ao perceber uma teia de aranha na quina da estante, seus dedos balbuciam, começam a se movimentar no ritmo do contorno do tecido, com todos os detalhes estruturais tão magníficos e poéticos. Quanta perfeição, senhora Mãe Natureza! Quando acaba, ao olhar para o papel, vê a teia completamente sobreposta ao papel. Por cima de todos os desenhos e escrituras que estavam ali, por conta das idéias anteriores. Enfim, ainda não é tão perfeita quanto a teia de verdade, mas é como uma fotografia para lembrar sempre daquelas formas admiráveis.

O tempo voa, como um pássaro carregando comida para os seus filhotes que esperam ansiosos no ninho. A madrugada chega como um visitante esperado, mas que chega antes da hora. Hora da despedida.

- Boa noite, solidão, imaginação, procrastinação e todos os "ãos" que me acompanharam nessa noite.
- Boa noite!
Felipe Kowalski

Nenhum comentário: