sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O vai e vem de um artista

O professor, jornalista, publicitário, e sobretudo desenhista, Nelson Baibich, o gaúcho filho de livreiros imigrantes, que ontem lançou seu primeiro livro, O vai e vem do verso, resultado de uma tese de mestrado que compara a estética publicitária e a poesia concretista, mostra em singela entrevista ao Estopim sua verdadeira essência de artista. O animado senhor de 58 anos, cômico sorriso e cabelos grisalhos, que formou-se em jornalismo em Porto Alegre, e que hoje, em Florianópolis, atua na área de publicidade, também dando aula nas universidades Univali, Sesc e Uniban, divide seu precioso tempo em três, além do trabalho e da família, Nelson reserva um momento especial para sua arte, confessando em lamento, o carma de todo artista, não poder viver da própria arte.

Amante do concretismo, do surrealismo e do matemático M. C. Escher, onde é possível ver nítidas influências em suas texturas, as quais intitula de reuniões, Nelson marca seu começo como desenhista em 1973, quando faz sua primeira exposição no centro acadêmico da universidade Famecos/PUCRS, impulsionado pela mãe que guardara seus desenhos desde pequeno. Seguindo assim, sempre com a arte arraigada e passando por várias fases, Nelson não procura ser vanguarda, e admite que o novo não existe, depois de tantos anos de estrada, sabe exatamente como criação e inspiração funcionam, busca mesmo é sempre se conciliar com a arte, e se diz arrependido, a certa altura do diálogo, por ter deixado-a de lado por um período. Classifica-se hoje sucintamente:


"eu sou o cara que desenha até na tela, ou quer dizer: eu não sou um pintor, digamos assim, eu sou um desenhista"
Sua arte atual é fruto de rabiscos em agendas e cadernos, que transformam-se depois em suas homogêneas composições, acredita que com elas alcançou estabilidade e que não irá mudar muito de agora em diante, “não é o auge” diz “ é encontrar o caminho da identidade”. Pensa em um futuro dedicado a esse trabalho, mas sem focar-se exclusivamente no desenho, quer explorar a arte como todo; entre exemplos destas concretizações, foi selecionado pelo júri artístico ao CowParade SC, mas confessa como frustração do ano, não poder participar por falta de patrocínio. Aventura-se também pelos caminhos das estampas, confecciona camisas personalizadas, resultado de um engraçado episódio, quando em sua exposição de 2009 no Iguatemi, conta que apareceu com as roupas e ninguém mais quis saber das telas, somente das camisetas; certamente inquieto e de um elevado espírito artístico, chegou a desenhar por completo o sofá de sua casa com sua textura reuniões, tendo todos esses trabalhos disponíveis em seu blog.

"Se eu for pensar na minha aposentadoria, vou pensar para eu fazer coisa, e não para parar de fazer coisas."
Assim como sua marca registrada, sua textura preta e branca, Nelson Baibich passa preenchendo os espaços, fazendo do inorgânico, orgânico, encaixando-se amorfamente, sem os cartesianismos que tanto presa em Escher, um artista buscando seu espaço em qualquer que seja a expressão, é uma mente criativa que não passa desapercebida, e que novamente como seus desenhos, completa-se, encaixa-se, e torna-se uma harmônica explosão.

Gessony Pawlick Jr.

Um comentário:

Nelson Baibich disse...

Gessony, parabéns pela matéria, você tem sensibilidade e capturou muito bem a nossa mensagem.Matéria bem escrita, fugindo do trivial e ampliando a nossa conversa.Vou guardá-la com muito carinho. Um abraço

Nelson Baibich